Beleza das varandas em tempos de Coronavírus

Escrito por: Sandra Maria de Sousa Pereira – imagens: Pixabay e acervo pessoal

Estamos vivendo um momento desafiador em todos os países, acompanhando quase que ferozmente por todos.

Momento verdadeiramente VUCA – volátil, incerto, complexo e ambíguo. Nada é previsível, nada será como antes. E a complexidade ainda mais incerta, pois é invisível e minúscula, porém poderosa e ágil.

A mídia convencional, ampliada exponencialmente pelas mídias sociais, permite um acompanhamento feroz, obsessivo e necessário do que acontece no mundo e no país a cada momento.

As deficiências de todos os países em termos de saúde, economia, educação, cidadania e política aparecem nuas e cruas ao sol. Também as nossas questões não resolvidas ficam em evidência, uma vez que temos de viver em maior proximidade conosco mesmos e com a nossa família.

Como sempre, a mídia se debruça sobre a dificuldade, o desafio e o negativo. Tudo muito justo e real, sem dúvida alguma.

Mas, aqui e ali, também aparecem notícias de coisas também reais, mas que não recebem tantos holofotes. Notícias sobre o humano que desponta junto com o medo, a incerteza e o luto.

O humano que aparece na criatividade das soluções e na solidariedade na oferta de recursos em larga escala, feitas por diversas instituições, tão importante para trazer mais eficiência e agilidade para os planos de contingência.

São muitas as ofertas de cursos gratuitos, apoio psicológico online, consultas médicas e emissão de receitas, livros para download, atividades para as crianças… uma riqueza sem fim de recursos que se propõem a ajudar a lidar com esse inesperado isolamento e clausura que, quem pode, deve adotar.

Mas, o que me encanta nesse momento são as “pequenas” ações que revelam o que temos de mais humano e que temos exercido tão pouco, na correria da nossa vida antes dessa crise.

Na Itália, onde tudo está sendo tão difícil, e o luto tem de ser vivido à distância, famílias em reclusão cantam, brindam, dançam, celebram a Vida, a partir de suas varandas e quintais, separadas fisicamente, mas juntas em espírito de alegria e resiliência.

Um verdadeiro exemplo para todo o mundo da união possível sob quaisquer circunstâncias.

Em São Paulo, pessoas marcam hora pelos aplicativos para cantarem juntas, diretamente de suas janelas e varandas.

No Rio de Janeiro, músicos tocam e o povo dança e aplaude, cada um da sua varanda, seguidos por várias vozes, que trazem poesia e humanidade a esses tempos desafiadores.

Um por todos, todos por um. Pela Vida e o que ela tem de mais essencial e verdadeiro.

Aniversários são realizados nas varandas e todos cantam parabéns para Aninha e Luiza, que tiveram de cancelar suas festas.

Minha professora de Pilates resolve fechar o estúdio físico, antes mesmo de o governo definir isso. E, no dia seguinte, já organiza o estúdio virtual, online, diretamente de sua varanda, para que ninguém fique parado nesse período. E tem muita adesão, inclusive da turminha dos 80+, que driblaram de alguma forma as suas eventuais dificuldades com a tecnologia.

As varandas são também fontes de aplausos coletivos para os profissionais de saúde, segurança, transporte, coleta de lixo etc., tão necessários, dedicados e exigidos nesse momento, que continuam trabalhando, apesar dos riscos.

E são, também, palco de protestos, com panelaços, no exercício da democracia e da cidadania.

Varandas (sempre gostei delas!) viraram espaços empáticos, portais do contato possível, ar livre, horizontes, abertura para o humano, a conexão e a criatividade.conexão

Varandas hoje são os antigos quintais, de encontros, churrascos e saraus. Organizados via tecnologia (gratidão!), verdadeira janela para o mundo, nos permitem vivenciar no compartilhar da voz, dos dons, da presença humana.

Quarentena sim, solidão nunca!

Médicos, enfermeiras e todos de saúde cuidam… do corpo, da doença. Os espiritualistas de qualquer religião cuidam da Alma…

Algumas pessoas se disponibilizam para ajudar idosos que moram sozinhos, fazendo alguns serviços de ordem prática, como compras e limpeza.

Somos humanos sendo humanos.

De minha parte, estou retomando antigos rituais, cursos parados, projetos que não saíam do papel, organizando a casa, fazendo artesanato, pão, trocando receitas, brincando com os gatos, falando virtualmente com a família. E ampliando profundamente meu autoconhecimento. Além de continuar atendendo online.

Uma das minhas resoluções desse período é nunca mais deixar nada para depois: contatos, telefonemas, encontros, projetos, viagens, experiências, mudanças e tudo o mais que seja importante para mim.

E, claro, estou aplicando os princípios da Psicologia Positiva, reforçando as emoções positivas, os relacionamentos, as conexões, olhando para mim e para o meu propósito, estabelecendo metas. E tomando ações concretas para viver isso cada vez mais, não só hoje, mas depois, quando tudo mudar novamente.

Também estou buscando o uso mais focado e intenso das minhas forças de caráter, fortalecendo a prática da gratidão, da criatividade, da espiritualidade e explorando novas formas de contribuir solidariamente com meus dons.

Uma das minhas forças (a primeira!) é a Apreciação da Beleza e da Excelência. Então, sou aquele tipo de pessoa que consegue ver a beleza deste momento, por trás e à frente de todo o desafio, a tristeza, a inseguran;ca, o medo e o luto. Temos a oportunidade de sair dessa muito melhores.

Veja só: descobri na minha varanda que a orquídea que floresce a cada dois anos, está cheia de botões… Talvez, em outro momento, essa beleza tão perto de mim passasse despercebida.

No que se refere ao uso dos dons, inspirada por tantas atividades de humanidade nas varandas reais e virtuais, como coach, consteladora e, antes de tudo, como ser humano, estou disponibilizando escuta, verdadeira e humana, para ajudar a aproximar, vencer distâncias, refletir, acolher e entender sentimentos e combater o tédio e a solidão. E ajudando as pessoas a também fazerem isso.

Tudo perfeitamente seguro, fluindo nas nuvens e ondas digitais. Viva a tecnologia!

Essa foi a forma que encontrei de contribuir e me trabalhar, usando o que é possível, para crescer com esse momento e estar pronta para continuar em ação, de forma diferente, quando tudo isso passar. 

Solidariedade e criatividade nos fazem humanos!

E você, dentro da sua esfera de ação possível, como escolhe viver esse momento?

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