Autora: Sandra Maria de Sousa Pereira
A liderança positiva surge na esteira dos conceitos da Psicologia Positiva, criada no final dos anos 90, com o objetivo de estudar o bem-estar e a felicidade.
Um dos seus principais estudiosos é o Dr. Martin Seligman, ph.D. e professor da Universidade da Pensilvânia.
Para a Psicologia Positiva, saúde mental positiva não é apenas a ausência de doença mental, mas também emoção positiva, engajamento, sentido, bons relacionamentos e realização: é a presença do florescimento, é o viver em plenitude.
Os primeiros cinco pilares foram sistematizados por Seligman no modelo PERMA (Sigla para: Positive emotions, Engagement, Relationship, Meaning, Accomplishement).
1 – Emoção positiva – cultive pensamentos e emoções positivas
Está comprovado pelas pesquisas da Psicologia Positiva que nossa saúde física e mental responde aos sentimentos e pensamentos positivos com aumento da imunidade e recuperação mais rápida de doenças.
2 – Engajamento – faça tudo com Alma
Engajamento significa entregar-se a algum objetivo, trabalho ou atividade, dando o melhor de si. Este tópico relaciona-se com o conceito de flow, estado que ocorre quando você se envolve profundamente com um desafio que lhe permite usar seus pontos fortes, seus talentos.
3 – Relacionamentos – conecte-se com os outros
É importante cultivar relacionamentos positivos, nos quais as pessoas possam comemorar juntos, apoiar-se mutuamente, comunicar-se assertivamente e reforçar o uso das características positivas, forças de caráter, perdão e gratidão.
4 – Sentido – tenha uma vida com significado
Fazer parte e servir a algo que você acredite ser maior que você é fundamental para dar significado e alegria à vida. Da mesma forma, é essencial conhecer e viver seus valores, sua missão e seu propósito de vida.
5 – Realização – tenha uma vida realizadora
Estabeleça e concretize metas. Desafie-se, crie o hábito de buscar sistematicamente o sucesso, qualquer que seja sua definição. Estabelecer metas ao mesmo tempo possíveis e desafiadoras permite que você utilize seu potencial, sustente seus valores e se sinta motivado e engajado.
Outro aspecto fundamental na Psicologia Positiva é o conhecimento e uso das forças e virtudes pessoais. Ao invés de perguntar quais são os seus pontos fracos, a ideia é conhecer e reforçar as suas virtudes.
As forças pessoais são o suporte para o engajamento. Ao usar suas características positivas mais fortes, você se energiza e entra no envolvimento com o que está fazendo, experimentando maiores níveis de felicidade.
Esses princípios são, para a Psicologia Positiva, a base da felicidade e bem-estar e levam, numa aplicação consistente e consciente, ao que Seligman chama de florescimento humano.
Numa associação livre, ainda a ser validada, costumo correlacionar o florescimento humano ao estado de autorrealização apresentado por Abrahan Maslow no topo da sua pirâmide das necessidades.
O líder positivo
Pelos pressupostos da Psicologia Positiva, para liderar as equipes atualmente, das quais se necessita muito mais do que mão-de-obra mas também cérebros pensantes e corações apaixonados para se obter resultados excepcionais, os líderes devem aprender a criar um ambiente extremamente positivo no trabalho.
Para isso, precisam, antes de tudo, experimentar em si mesmos os efeitos desses conceitos, ou seja, utilizar os princípios da Psicologia Positiva em sua vida, demonstrando-os em suas atitudes, gerando coerência e servindo de exemplo.
Além disso, devem conhecer profundamente cada pessoa de sua equipe não só nos seus talentos, mas também em suas histórias de vida, valores e necessidades. E, conhecendo-os, optar pelo desviante positivo, ou seja, concentrar-se nos pontos fortes de cada um deles, facilitando a geração de emoções positivas, o engajamento, as relações de apoio mútuo em todos os níveis da organização e ajudando a criar um senso profundo de significado e propósito no trabalho.
A liderança positiva atua encorajando, fortalecendo e energizando as pessoas, muito diferente do padrão comando-controle da liderança autocrática.
“Com este tipo de liderança, todos os liderados se destacam, pois não é uma liderança de privilégios nem de privilegiados, mas de valorização das virtudes individuais no grupo. Cada integrante da equipe é chamado a colocar seus dons a serviço da corporação, fazendo-o sentir-se parte do todo.” (Sulivan França)
Kim Cameron, professor da Universidade de Michigan (EUA), coordenador do grupo que propôs o primeiro modelo da Liderança Positiva, em seu Livro Practicing Positive Leadership, identificou quatro estratégias do líder que possibilitam ajudar as organizações e aos indivíduos que nelas atuam a florescerem:
1) criar um clima organizacional positivo;
2) cuidar do desenvolvimento dos relacionamentos;
3) praticar a comunicação assertiva; e
4) promover o significado no trabalho.
Pelas pesquisas apresentadas, Cameron demonstra que essas estratégias não têm simplesmente uma função de gerar o bem-estar dos indivíduos na organização por uma causa social, já que tem impactos concretos no alcance e superação de resultados financeiros.
O líder positivo tem consciência que um bom clima organizacional, com práticas saudáveis, promove a motivação e a produtividade e sabe que o caminho do alto desempenho passa por criar sentimentos positivos no ambiente de trabalho, por meio do foco em fatores como confiança, valores, ética, reconhecimento, alegria, gratidão e respeito mútuo.
Martin Seligman, no seu artigo Beyoun Money, faz diversas reflexões sobre a importância de se incluir uma agenda positiva nas políticas governamentais e, por extensão, nas empresariais.
Entre outros aspectos, destaca que a adoção das práticas da Psicologia Positiva tem impactos mensuráveis na melhoria da saúde física, na diminuição de casos de depressão, aumento do engajamento, maior criatividade e melhor performance das pessoas.
“Trabalhadores satisfeitos e felizes são melhores cidadãos organizacionais que trabalhadores infelizes. Grupos de trabalho com alta satisfação tem mais clientes satisfeitos que grupos com baixa satisfação. A satisfação dos grupos de trabalho pode ser correlacionada com produtividade e lucratividade.” (pág. 24).
Para ser um líder positivo é necessário aprender a:
• elogiar mais do que criticar, sem deixar de ser franco;
• ter espírito de equipe;
• estimular as ações e atitudes positivas dos seus liderados;
• zelar pelo bom clima organizacional;
• expor ideias com clareza e convicção;
• passar confiança e entusiasmo;
• compartilhar a visão e os valores;
• estimular o engajamento, sendo ele mesmo exemplo;
• estimular a resiliência.
Na liderança positiva, mais que em qualquer outra, o conceito principal é que as pessoas são a base, já que o trabalho depende delas. Por isso, é essencial ter um ambiente positivo para gerar melhores resultados.
Além disso, é necessário desenvolver constantemente as pessoas, estimulando a responsabilização e autogestão.
Isso só é possível na medida em que o líder conheça os liderados, suas forças e valores, para estabelecer desafios que aproveitem o melhor de cada um e gerem o estado de engajamento e flow no ambiente de trabalho.
Gerar engajamento e flow cria novas emoções positivas na equipe, fortalecendo os relacionamentos e alimentando o bem-estar. Além disso, facilita a criação de sentimento de dono (tudo é do meu interesse e meu problema), uma vez que conecta os colaboradores com a visão e os objetivos e cria condições favoráveis para que deem sempre o seu melhor para os projetos e metas conjuntos.
Dessa forma, pode-se dizer que a liderança positiva gera profissionais mais realizados, que se sentem mais valorizados, um ambiente de trabalho agradável, maior produtividade e criatividade.
As principais atitudes da Liderança Positiva em relação aos seus liderados devem ser:
- liberdade para tomar decisões – nesse aspecto, relaciona-se com a Liderança Colaborativa, que preconiza que, mesmo que o líder seja o responsável final pelas decisões e seus resultados, os colaboradores devem ter autonomia para decidir e resolver, estimulando o seu desenvolvimento e aproveitando os talentos dentro das equipes, o que tende a potencializar os resultados do trabalho;
- comunicação assertiva – o líder positivo deve compartilhar sempre as informações com a sua equipe, de modo transparente, eficiente, fornecendo todos os dados que precisam não só para realizar o seu trabalho com eficácia, mas também para entender o contexto e cenário do trabalho a ser realizado. Essa prática tende a aumentar o engajamento e o sentimento de dono entre os colaboradores.
- relacionamento interpessoal – estimular o bom relacionamento interpessoal na equipe, focando no desenvolvimento da confiança e na resolução positiva e respeitosa de eventuais conflitos.
- feedback contínuo – manter o colaborador sempre informado sobre seu desempenho, pontos de melhoria e, principalmente, pontos fortes que devem ser mantidos e potencializados, sempre privilegiando uma mentalidade de crescimento.
Esse tipo de liderança é especialmente atraente para as novas gerações, que tendem a abraçar causas humanitárias e ecológicas, e cujas motivações são mais intrínsecas e podem, segundo Daniel Pink, ser resumidas em três fatores: autonomia, excelência e propósito.
Ou seja, a liderança positiva parece ser uma excelente opção não só para esse momento, que nos pede tanta resiliência e criatividade, mas também para atrair e manter o interesse das novas gerações que liderarão a construção do futuro.
Para ajudar o líder a desenvolver as características necessárias a uma liderança positiva, o processo de coaching contribui efetivamente com atividades que ampliam seu autoconhecimento, inteligência emocional, competências, recursos internos e externos e entendimento dos valores humanos, tornando-o apto a lidar e gerir pessoas, incluindo os desafios e da riqueza da diversidade que isso representa.
Nesse processo, o líder tem oportunidade de fazer uma reflexão profunda e sistematizada sobre suas necessidades de desenvolvimento e de criar e colocar em prática um plano de ação para que isso ocorra de forma mais rápida, sustentada e com sucesso.
E, em se tratando de sucesso, convido todos aqueles que o buscam, na acepção mais ampla do termo, a ler o livro O Jeito Harvard de ser feliz, no qual Shawn Achor nos traz ainda um benefício adicional, ao tratar da importância da felicidade e bem-estar.
Para ele, é a felicidade que impulsiona o sucesso e não o contrário. Quando somos positivos, o nosso cérebro se envolve mais, torna-se mais criativo, motivado, energizado e produtivo no trabalho.
“Você não precisa ter sucesso para ser feliz, mas precisa ser feliz para ter sucesso.” (Shawn Achor)
Obs.: Artigo escrito como parte dos trabalhos da Célula de Liderança do GEC-Grupo de Excelência em Coaching do CRASP.
Referências
• Seligman, Martin – Felicidade Autêntica, 2002, Ed. Objetiva)
• ______________ – Florescer, 2011, Ed. Objetiva)
• ______________ – Beyond Money – article https://ppc.sas.upenn.edu/sites/default/files/beyondmoney.pdf
• Pink, Daniel – Motivação 3.0, 2010, Ed. Elsevier – Campus
• Achor, Shawn – O jeito Harvard de ser feliz: o curso mais concorrido da melhor universidade do , Ed Benvirá
• Guimarães, Gilberto – Liderança Positiva, Ed. Évora
• Cameron, Kim – Practicing Positive Leadership: Tools and Techniques That Create Extraordinary Results, Berrett-Koehler Publishers, 2013
• https://portaldalecarnegie.com/conheca-lideranca-positiva-e-seus-beneficios/
• https://www.slacoaching.com.br/artigos-do-presidente/o-que-e-lideranca-positiva
• https://www.sbcoaching.com.br/blog/lideranca-positiva-2/
• https://www.slacoaching.com.br/artigos-do-presidente/o-que-e-lideranca-positiva
Ótimo artigo, Sandra! Parabéns!!!
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Ola Sandra
Super bem estruturado e alinhado aos desafios do desenvolvimento da liderança
Sempre colocamos foco nisso em nossos trabalhos, não é? Temos agora o momento que vivemos como aliado e impulsionador!!!
Parabéns!!!
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