Escrito por: Sandra Maria de Sousa Pereira – Imagem: Pixabay
A expressão correta, vinda do ser integral e que promove os verdadeiros encontros entre as pessoas, sempre foi um dos meus temas de reflexão e de trabalho.
Comunicar é construir pontes. Não sei quem disse isso, mas faz tempo que essa é uma das minhas frases preferidas.
Acredito que é a partir da fala – e da escuta – de um lugar de autenticidade e congruência interna que se pode encontrar um caminho para a convivência entre os “diferentes tão iguais”.
Somos todos diferentes na nossa singularidade, nas nossas preferências, origens, histórias de vida, oportunidades, estratégias etc.; mas também somos muito iguais na nossa humanidade, naquilo que nos torna membros de uma mesma comunidade humana, ou seja, necessidades, valores e metáforas arquetípicas.
Embora para mim esteja clara a necessidade de encontrar esse caminho a partir da comunicação, também é muito claro que isso não é nada fácil, principalmente nestes tempos de tanta polarização e emergência de medos e incertezas.
Vem daí o meu flerte com o tema CNV-Comunicação não violenta, que acredito ser um dos caminhos para conseguir essa conexão verdadeira a partir do que nos faz humanos e encontrar soluções de convivência sustentável e sustentada em valores.
Digo flerte, porque na verdade meu conhecimento sobre CNV não é tão profundo quanto eu gostaria. Para mim ainda é um tema e, mais que isso, uma atitude em construção.
Recentemente, tive a indicação de um livro interessante sobre CNV. Acabei comprando dois livros e um jogo. E tive uma agradável surpresa com um deles, o livro a corazão – ou a arte de pôr ordem sem dar ordens.
Com uma linguagem leve e ilustrações minimalistas, os autores tratam de forma abrangente e profunda um tema tão complexo, tornando essa aproximação agradável, quase lúdica.
A questão dos conflitos gerados pelos diferentes comportamentos e estratégias é recorrente nos processos de coaching que tenho conduzido.
A resposta para isso muitas vezes é buscar a conexão em um nível mais profundo, ou seja, nos valores e na identidade das pessoas envolvidas, que podem trazer uma nova luz aos comportamentos e estratégias, possibilitando mudanças e soluções positivas.
Na CNV, esse olhar converge para as necessidades. É importante reconhecer e falar das necessidades que estão por trás dos comportamentos das pessoas, para entender e transformar as diferentes estratégias decorrentes, que podem ser muito diferentes e contraditórias de uma pessoa para outra e, até mesmo, numa mesma pessoa, conforme a situação.
A partir daí é possível iniciar um diálogo – um encontro – verdadeiro, do qual podem surgir estratégias convergentes para as necessidades de cada um.
Mas como reconheço a minha necessidade?
Segundo a CNV, nossas necessidades se expressam em nós a partir dos nossos sentimentos, que falam por meio do nosso corpo. Precisamos ser capazes de nos observar e conhecer e nomear nossos sentimentos.
Como diria a sabedoria do povo mineiro, tudo começa “ni mim”.
A partir da auto-observação, do acolhimento dos meus sentimentos e da capacidade de definir e dar nome a eles, posso encontrar a necessidade que lhes dá origem.
“Debaixo de cada sentimento há uma necessidade.”
a corazão
Estar presente para isso me ajuda a entender as minhas estratégias, meus comportamentos, por vezes automáticos e contraproducentes, e definir novas estratégias mais adequadas, se necessário.
Então, a primeira comunicação é conosco mesmos, conectando-nos com essa inteireza, estabelecendo essa congruência interna, com nossa identidade, valores e comportamentos. Equilibrar querer, sentir, pensar e agir é que nos traz essa coerência.
Fácil, né? Só que não…
Para isso é necessário cultivar um estado de presença, em primeiro lugar com tudo aquilo que somos, o que sentimos e como agimos, evitando os automatismos construídos a partir de nossa história de vida e nossas experiências de fracasso e de sucesso.
“Semear um bom hábito seria parar para pensar: do que preciso nesse exato momento?”
a corazão
Estar presente para nos observarmos, nosso querer, sentir, pensare agir e nossos automatismos.
Saber reconhecer e nomear nossas necessidades mais básicas é um processo de profundo autoconhecimento, que requer atenção e tempo dedicado a nós mesmos. Este é um tempo de qualidade, que vale a pena, porque contribui para nossa qualidade de vida e nos traz autorresponsabilidade sobre nosso bem-estar.
A partir dessa jornada interna é que começa a verdadeira aventura do encontro externo.
Somente a partir desse trabalho interno posso me comunicar verdadeiramente com os outros.
Comunicar-se com o outro pressupõe levar em consideração que as pessoas estão sempre em mudança.
Seria muito confortável se sempre soubéssemos com quem estamos falando. Mas isso não é verdade: as pessoas estão em constante evolução. Só que agimos como se as conhecêssemos muito bem, principalmente as pessoas com quem convivemos há muito tempo.
É mais confortável agir a partir dos estereótipos que construímos sobre os outros, porque isso traz o automatismo nas relações, fazendo que ganhemos tempo e possamos estar presentes-ausentes.
Só que isso não contribui para o verdadeiro encontro entre as pessoas. Ao contrário, afasta, gera conflitos, distância e solidão.
Dá trabalho relacionar-se. Para isso é necessário “sair do ‘sei quem é’ para perguntar-se com curiosidade: ‘quem é essa pessoa agora’”
a corazão
E o desafio aí está em escutar verdadeiramente, ‘apenas’ escutar. Escutar para conhecer, entender, acolher. Não para responder, rebater, tentar sobrepor sua razão e sua necessidade ao outro.
Escutar para verdadeiramente empatizar: a partir da minha inteireza me encontrar com o outro na sua inteireza.
Escuta empática somada a expressão honesta é a fórmula da CNV, a comunicação que promove o verdadeiro encontro e crescimento humano.
“O presente é sempre um mistério. A outra pessoa é sempre um mistério.”
a corazão
A CNV nos ensina a verdadeira comunicação, que nos permite embarcar nessa aventura de viver com olhar renovado, em relacão a nós mesmos, à vida e às outras pessoas.
Com certeza vou estudar – e praticar – muito mais esse tema, para me aproximar cada vez mais da comunicação expressa poeticamente nas palavras de Sonia Café:
“O Anjo da Comunicação
Quando encontramos alguém e nos conectamos com a sua luz interior, permitimos que a mais fluida comunicação aconteça. Seja com palavras, com gestos, com um sorriso ou através do silêncio, a comunicação que surge da Alma irradia interação e sincronicidade em nossa vida.”
Sonia Café
REFERÊNCIAS
CABUT, Roxana/ EL-YOUNSI, Raed – a corazão – ou a arte de pôr ordem sem dar ordens – Editora Colibri, São José dos Campos-SP, 2020
CAFÉ, Sonia – Meditando com os Anjos – Pensamento, São Paulo, 1997
Ótimo e atual tema, Sandra. Parabéns!!! 👏👏👏👏 Escuta, empatia e afetividade integram as competências relacionais cada vez mais. Bjs 🌾🌿🍂
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Meu Deus, Sandra! Vc não está flertando com a CNV!!! Vc está casadíssima com ela! Que bacana. Amei suas colocações e igualmente as menções ao livro Corazão.
Que linda. Você 🌺
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