O FATOR LONGEVIDADE NO PROCESSO DE COACHING

Escrito por: Sandra Maria de Sousa Pereira – Imagem: Pixabay

Segundo projeção do IBGE, em 2031, o número de 60+ vai superar, pela primeira vez, a quantidade de crianças e adolescentes. E antes de 2050, os 60+ serão um grupo maior que a parcela da população de 40 a 59 anos.

Esse chamado “tsunami da longevidade” terá impactos profundos e ainda não totalmente compreendidos em todos os âmbitos da vida, ou seja, na economia, saúde, assistência social, moradia, vida familiar, mercado de trabalho, hábitos de consumo etc.

Dentre todos os aspectos impactados crescentemente por esse aumento da expectativa de vida da população, destaca-se a continuidade da vida produtiva.

Hoje e ainda mais nos anos vindouros, uma pessoa na faixa de 60 anos não é mais considerada idosa e, estando com saúde e ativa, tem muitas contribuições possíveis e valiosas para o mercado de trabalho e para a comunidade de um modo geral.

Se, por um lado, temos a diminuição de algumas capacidades principalmente físicas, por outro, temos um possível e desejado aumento de capacidade e sabedoria que podem ser disponibilizadas e aproveitadas de várias maneiras.

Todo o conhecimento e experiência de vida acumulados não precisam e não devem ser descartados simplesmente porque se atingiu determinada idade, tendo ou não se aposentado.

Ao contrário, a comunidade ou empresa inteligente terá a clareza de ver as inúmeras possibilidades de aproveitamento desses saberes, seja em uma atividade contínua ou por projetos ou mentorias para transferência de conhecimento, voluntariado etc.

É claro que, para isso, a pessoa necessita estar saudável, acompanhar as mudanças do tempo em que vive e estar disponível para continuar aprendendo.

Um bom exemplo dessas possibilidades, a mentoria cruzada entre diferentes gerações, pode ser visto no filme O Estagiário que, embora seja ficção, representa uma tendência emergente no mundo do trabalho.

Outro aspecto muito importante é a preparação das pessoas para esse aumento de expectativa de vida, planejando-se e investindo para ter o máximo de autonomia financeira e de saúde.

Impactos no processo de coaching

A longevidade, nesse contexto, passa a ser fator cada vez mais relevante nos processos de coaching, principalmente naqueles referentes às transições de vida e de carreira, devendo ser considerado nas reflexões sobre todas as mudanças desejadas e planejadas.

Um dos instrumentos muito utilizados no processo de coaching é a “Roda da Vida”, por meio da qual a pessoa reflete sobre como está em cada uma das suas áreas de vida e tem uma visão mais completa do seu momento e quais as suas necessidades de desenvolvimento frente ao que deseja alcançar.

Nesse caso, ao se pensar nessas áreas, deve ser dada bastante ênfase na visão de longo prazo em termos de finanças, saúde, relacionamentos, network , carreira etc., que se tornam itens fundamentais de um plano de ação realmente sustentável para qualquer transição, tanto mais importantes quanto maior for a idade da pessoa.

Este é também um bom momento para resgatar ou ressignificar sonhos antigos, incorporando-os nas atividades atuais, transformando-os em hobbies ou mesmo em novas atividades, remuneradas ou não.

Nesse campo, também é importante revisitar temas significativos como Propósito, Missão e metas de vida.

Para essa reflexão, costumo usar a ferramenta “Metas de Vida – Linha do Tempo”, que propõe olhar em um horizonte de 20 anos para todas as grandes áreas da vida.

Essa ferramenta costuma ser muito valiosa, qualquer que seja a idade da pessoa, porque presentifica o futuro de modo sistematizado e permite estabelecer passos para chegar lá, começando desde hoje.

Para quem é mais jovem, mostra a necessidade de pensar em alguns aspectos que ainda pareciam bem distantes. E, para quem tem mais idade, traz a urgência de resolver os temas que eventualmente estejam pendentes.

Tive a oportunidade de conduzir alguns processos de coaching em que o objetivo de fazer uma transição de vida e de carreira esbarrava em considerações muito concretas sobre o futuro desejado e possível, em função da necessidade de se garantir autonomia financeira, física e mental para um tempo considerável.

Muitas vezes, mesmo a pessoa já tendo filhos adultos, esses ainda dependiam de alguma forma de seus rendimentos do trabalho remunerado. Ou havia compromissos financeiros familiares muito grandes, que impediam uma tomada de decisão mais tranquila.

Nesses casos, o plano de ação para essa transição teve de considerar uma mudança gradual e muito bem planejada, visando criar uma reserva financeira mais segura e confortável e uma participação mais ativa dos familiares na resolução dessas questões.

Em outros casos, o arrependimento por não ter criado uma reserva financeira para longo prazo foi superado por uma atuação mais agressiva e estratégica, no sentido de aproveitar o network, o reconhecimento e autoridade conquistados nas atividades anteriores, transferindo-os para as novas áreas de atuação, o que possibilitou gerar rapidamente novos recursos.

Em todos os casos, houve resgate ou ressignificação dos sonhos antigos, o que gerou muita energia e motivação para superar as eventuais dificuldades do processo.

Tenho ouvido muito por aí que “o idoso é o jovem que deu certo’. 

Se isso é verdade do ponto de vista absoluto, ou seja, de que o jovem sobreviveu para se tornar idoso, também nos traz a consciência de que cada vez mais precisamos estar atentos e nos planejar para que cheguemos a uma idade mais avançada de forma ativa, com saúde e autonomia em todas as áreas, possibilitando escolhas mais tranquilas no que se refere à nossa vida e continuidade de contribuição.

Se fizermos, o mais cedo possível, tudo que estiver ao nosso alcance para planejar nossa vida para a longevidade em todas as áreas, teremos muitas e maiores chances de dizer, com toda propriedade, uma frase que costumo usar, meio de brincadeira, meio de expressão de um desejo:

“Não sou velho. Só sou jovem há mais tempo”.

REFERÊNCIAS

Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde – OMS (Organização Mundial de Saúde), 2015

https://www.ibge.gov.br/


Artigo publicado inicialmente no Linkedin do GEC-Grupo de Excelência em Coaching do CRA-SP

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