Crenças, hábitos e a Mochila de Rodinhas

Por: Sandra Maria de Sousa Pereira

“Eu sei que a gente se acostuma, eu sei, mas não devia.”  Marina Colasanti

Há alguns meses, estive na cidade de Gramado (RS), para ministrar um treinamento e facilitar um world café para um cliente muito especial. Do meu ponto de vista, o evento foi muito bom e voltei muito feliz.

Mas o que eu queria compartilhar aqui foi algo até mesmo prosaico que aconteceu antes e depois e que me provocou reflexões e insights muito poderosos.

Decidi usar, pela primeira vez, uma mochila de rodinhas que já possuía há algum tempo.

Normalmente levo meu notebook e outros itens pessoais numa mochila comum, no ombro ou nas costas, que acaba se tornando bastante pesada e incômoda quando tenho de andar ou esperar muito no aeroporto.

Enfim, lá fui eu dessa vez rodando leve com minhas coisas na mochila de rodinhas.

A primeira sensação foi ótima: nenhum peso para carregar. E tudo que eu precisava comigo. E me perguntei: por que demorei tanto para usar essa mochila?

Amei a sensação, a possibilidade de ter as mãos livres, ir ao banheiro sem me atrapalhar tanto. Nem parecia que ia trabalhar. Enfim, tudo ficou mais fácil…

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Mas a mochila de rodinhas me ensinou que o assunto não é tão simples assim.

No caso, percebi que carregar peso me dava uma sensação de segurança, porque sentia sempre no corpo a presença dos meus objetos valiosos, mesmo que eu não estivesse prestando atenção.

Então, apesar de rodar leve, com tranquilidade e sabedora de que minhas coisas estavam bem ali, ao alcance da minha mão, eu também estava inquieta, com uma sensação de insegurança, e ficava o tempo todo checando se a mochila estava lá (mesmo que eu estivesse com a alça fir-me-men-te presa na minha mão).

E essa sensação, misto de leveza e de desconforto, me seguiu tanto na ida quanto na volta.

Sempre que me distraía com alguma coisa, me assustava e acabava olhando instintivamente para trás, para ter certeza de que a mochila estava lá, rodando atrás da alça que eu segurava.

E nem adiantou eu me dizer o quanto isso era ridículo ou irracional.

O fato é que a sensação (quase sentimento) estava lá, firme e forte: por não estar carregando o peso, eu não me sentia no controle total da minha mochila e dos meus pertences.

Isso me incomodava muito mesmo e me fez refletir bastante.

Primeiro, sobre o quanto nos acostumamos com tudo e o quanto os hábitos acabam se enraizando tanto na nossa vida, que vão se tornando quase parte da nossa identidade.

Segundo, fiquei pensando em como isso é também uma crença que eu tenho, de que as coisas para darem certo ou irem bem, precisam ser pesadas, difíceis. Ou seja, precisa estudar e trabalhar muito para conseguir qualquer coisa (não é, Nanda Peris?).

Embora eu ainda ache que isso é uma verdade, porque sempre funcionou para mim, também sei que pode ser diferente, mais leve e prazeroso.

Terceiro, refleti o quanto tenho andado por aí carregando peso… talvez apenas por estar habituada.

O peso das minhas coisas na mochila, o peso de situações e relacionamentos que já não fazem sentido, o peso de escolhas, responsabilidades e seriedades auto infligidas e, talvez por isso mesmo, o peso excessivo do meu corpo.

Tantas coisas que eu, como coach, ajudo meus clientes a superarem, para vivenciarem uma vida mais plena, ainda estavam lá, em mim, escondidas em hábitos inocentes.

Muitas vezes decidimos mudar coisas em nossas vidas, seguir rumos mais satisfatórios, fazemos planos de ação maravilhosos… que simplesmente não vão para frente.

Isso acontece muito nos processos de coaching: tudo vai muito bem no começo, o autoconhecimento é lindo, a pessoa sente-se plena de recursos, desenha um plano de ação maravilhoso, aderente aos seus valores e objetivos, mas na hora de colocar em prática, ai… ai… ai…, alguma coisa impede a evolução e atrapalha o caminho.

A verdade é que a gente se acostuma com as coisas, inclusive com as mais incômodas. E esse hábito, se não for bem trabalhado e considerado no nosso plano de ação para a mudança, acabará sabotando nosso processo ou, no mínimo, tornando-o mais lento.

A mudança é um processo e, para que ele ocorra, é essencial considerar nossas crenças e levar em conta a necessidade e o tempo para transformar os hábitos, mesmo os mais inocentes, o que sempre gerará algum desconforto, ao menos no início.

Enfim, essa danada e aparentemente inocente mochila de rodinhas me fez refletir muito e me ensinou mais algumas lições sobre crenças, hábitos e mudanças, que já comecei a usar para mim e para ajudar ainda mais os meus clientes.

Agora meu propósito é usar cada vez mais a mochila de rodinhas (a real e a metafórica), acostumando meu cérebro e meu corpo com a leveza.

E, acima de tudo, ficar atenta a tudo que me rodeia e que eu faço, para garantir que a leveza cada vez mais faça parte das minhas escolhas e da minha vida.

Por isso, se me virem por aí, rodando alegre e saltitante como quem leva suas coisas sem esforço numa mochila de rodinhas, não se preocupem.

Sou eu exercitando a leveza…

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